Os heróis são agora de outro género, mas a memória do lavrador que conquistou os Alpes a pedalar está viva.
Dia 30 Abril de 1984. O pelotão rola veloz em direcção à Avenida da Praia, em Quarteira. No céu, algumas nuvens lembram o dia anterior, de chuva. São os últimos 200 metros dos 77 quilómetros da 5ª etapa da Volta ao Algarve em bicicleta. Os 51 homens do pelotão dão as últimas pedaladas da manhã só com a meta no horizonte, lançando os sprinters para a final. De repente, o inesperado. Dois cães atravessam a rua e surpreendem os corredores. Alguns perdem o controlo e não evitam a queda. Um deles é o camisola amarela, que bate violentamente com a cabeça no empedrado. Atordoado, tenta levantar-se mas não consegue. Quer terminar a corrida, assegura que está bem e que foi só mais uma queda. Apenas mais uma entre tantas na sua carreira. Teimoso, senta-se no selim e começa a pedalar. Com dificuldade. Dois colegas de equipa ladeiam-no e ajudam-no a cortar a meta, um minuto e 20 segundos depois do primeiro. Preocupados, todos perguntam se está bem. Garante novamente que sim e senta-se no chão. Não estava. Uma semana depois chega a notícia que ninguém queria ouvir. Joaquim Agostinho, o campeão que venceu os Alpes franceses, não sobrevive a um hematoma epidural, causado pela queda da bicicleta. Morre a 10 de Maio.
Fonte: Jornal Correio da Manhã